
Entre 2003 e 2005, Sebastian Ortega foi o responsável pela área de ficção da produtora Ideas de Sur.
Criador de programas de enormes sucessos, como Los Roldan e Costumbres Argentinas, Ortega resolveu se afastar da produtora de Marcelo Tinelli e, em 2006, abrir a sua própria: Underground Contenidos.
O seu primeiro projeto, a novela El Tiempo no Para (o nome vem da música de sucesso da banda argentina Bersuit Vagabarat que, sim, é um cover do maior sucesso de Cazuza), foi exibida no Canal 9, uma emissora de baixa audiência, e, apesar de não ter alcançado números altos, ganhou prêmios e teve críticas muito boas.
No ano seguinte, criou Lalola, um gigantesco sucesso. Novela latina mais exportada desde Betty a Feia, foi adaptada por mais de 10 países (os direitos foram comprados até pelos EUA que chegaram a produzir um piloto com James Van Der Beek no papel principal) e foi a primeira novela argentina a ser exibida em seu formato original na TV aberta dos dois maiores mercados latino-americanos: o Brasil (no SBT) e o México.Tudo muito lindo, não fosse por um pequeno detalhe: Lalola foi muito mais barulho do que resultado. A empresa israeli-argentina Dori Media, responsável pela exportação, conseguiu convencer o mundo inteiro que a novela era o maior sucesso latino desde A Feia. Vendo o número de países para os quais a novela foi exportada, muitos podem acreditar nisso. Mas, o fato é que a novela não chegou nem PERTO do sucesso de folhetins como Betty, Café com Aroma de Mulher ou Pasión de Gavilanes.
Na própria Argentina, seu país de origem, Lalola nunca foi um gigantesco sucesso. Parte disso se deve ao fato dela ter sido exibida no America 2, um canal com baixa audiência. Nos primeiros meses, os índices foram bem mais altos do que a média do canal (entretanto, não alto suficiente para figurar entre os 20 programas mais vistos do país). Mas, depois de 2 meses de alto rendimento, a novela entrou em enorme declínio e só se recuperou no capítulo final.
Porém, todos esses detalhes foram ignorados por TVs do mundo inteiro que não hesitaram em comprar os direitos, acreditando ter nas mãos um sucesso do tamanho de Betty.
Acabaram quebrando a cara, pois a tendência mundial foi repetir o que havia acontecido na Argentina.
No Brasil e no México, Lalola começou com audiências bastante animadoras para o SBT e para Azteca7. Porém, depois de algumas semanas, a audiência entrou em queda livre, exatamente da mesma maneira que tinha acontecido na exibição original na Argentina.
Na Espanha aconteceu a mesma coisa: depois de muita promoção, a versão local estreou com números altíssimos (algo extremamente surpreendente pois foi exibido no horário diurno da Antena 3, um horário 'amaldiçoado' que não tinha nenhum programa de sucesso em mais de quatro anos). Depois de algumas semanas com boas audiências, caiu e caiu e caiu, até que foi cancelada.
No Chile, Lola teve bons índices de audiência e liderou o horário durante toda sua exibição mas é importante ressaltar que a versão chilena se diferenciou MUITO argumentalmente da versão argentina.
É verdade que Lalola teve seus méritos: ganhou 7 Martin Fierros (o principal prêmio da TV argentina) inclusive o prestigioso Martin Fierro de Oro, e foi um dos maiores sucessos de exportação da história da TV argentina. O número de prêmios e de países onde o programa foi exibido podem acabar fazendo com que o programa pareça um sucesso maior do que ele realmente foi. Na verdade, a tendência foi a mesma em quase todos os países: altos números no começo e enorme queda nas semanas seguintes. Nem na Argentina, seu país de origem, a novela teve números espetaculares.
Isso se deu porque, apesar de bons roteiristas, atores e produção, o argumento do homem que virava mulher era divertido apenas nas primeiras semanas. Depois, a novela não tinha para onde evoluir.

Os reconhecimentos de Lalola fizeram com que a Telefe, canal mais visto do país, se interessasse em produzir com Ortega. O seu novo projeto, Los Exitosos Pells, ganhou um espaço no horário nobre do canal.
Inicialmente, o programa foi um fenômeno. Enquanto Lalola começou com 7 pontos (considerado alto para o America 2), Los Pells começou com 25 (afinal, a audiência da Telefe é três vezes maior que a do América). Choveram elogios por sua produção criativa, seus roteiros divertidos e seus ótimos atores. Os Pells superaram a audiência do rei soberano da TV local, Marcelo Tinelli, e seus protagonistas estamparam a capa de todas as principais revistas do país.
Porém, Ortega não aprendeu: depois de dois meses de enorme sucesso, a história, sobre a dupla de apresentadores de telejornal que forma o casal mais amado do país (estilo Bonner e Fatima Bernardes), mas na verdade se odeia e não tem nenhum vínculo amoroso, não tinha mais para onde ir. E a audiência caiu e caiu até ser superada em mais de 10 pontos por Valientes, a ficção do Canal 13. De novo, o mesmo erro: depois de um bom início, um desenvolvimento extremamente lento e com poucos acontecimentos.
Seguindo o exemplo de Lalola, os Pells são um grande sucesso de vendas: antes mesmo de estrear na TV argentina, a novela já tinha sido vendida para a Espanha e para o Chile. A versão mexicana será a primeira novela da Televisa a ser gravada fora do México (o remake, com um elenco cheio de estrelas novelescas mexicanas, está sendo gravado em Buenos Aires).

Porém, tudo indica que internacionalmente os Pells vão ter o mesmo destino que a versão original argentina e que Lalola: no Chile, o único país onde o remake já está no ar (com uma adaptação bem fiel, diferente da versão deles para Lalola), a audiência foi muito animadora no seu início mas está cada vez mais baixa.
Agora que Los Exitosos Pells já chegou ao seu fim na TV argentina (com um índice de 22 pontos, uma boa audiência porém mais baixa do que em suas semanas iniciais e bem mais baixa que os mais de 30 que Vidas Robadas conseguiu em 2008 e Montecristo em 2006), Ortega está ocupado na pré-produção de seu novo projeto. Inicialmente, seria uma novela com elementos sobrenaturais, ambientada num supermercado e com um elenco cheio de grandes estrelas, como Celeste Cid e Benjamin Vicuña. Mas, devido a crise econômica mundial e ao alto orçamento, a Telefe não aprovou o projeto. Agora, a Underground produzirá outra comédia, chamada Botineras, com um argumento parecido com a série inglesa Footballers Wives (sobre as Maria Chuteiras) e que terá Nicolas Cabre e Luisana Lopilato nos papeis principais.
Ortega tem um enorme potencial (em certos aspectos, lembra Guel Arraes). Seus programas são divertidos e bem produzidos. Porém, cometer o mesmo erro duas vezes é algo grave. No momento, ele é um nome altamente cobiçado no mercado internacional mas outra pisada de bola e ele pode colocar tudo a perder...












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